A Concha Acústica do TCA se transformará, amanhã, em bailão popular. E, se ninguém se espantar de ouvir sucessos como o forró Você não Vale Nada ou a lambada Chorando se Foi em um show supostamente de pop rock, é possível que o intérprete do espetáculo cause algum espanto aos desavisados.
Nando Reis, 48 anos, o mesmo roqueiro ex-Titãs e que compôs preciosidades para artistas como Cássia Eller (1962-2001) e Marisa Monte, estará à frente do show que deu origem ao DVD MTV Ao Vivo Bailão do Ruivão (2010).
Para Nando, cantar em Salvador clássicos populares como Fogo e Paixão, sucesso de Wando; Lindo Balão Azul, de Guilherme Arantes; ou a internacional Venus, do grupo Shocking Blue, será simplesmente “uma delícia”.
Glória e Terror
Na cidade que lhe seduz com acarajés e muita arte, Nando faz questão de lembrar da intensidade das apresentações que já fez aqui, especialmente na Concha.
“A Concha é um santuário! Fiz inúmeros shows sozinho e com os Titãs. Mas, em um deles, fomos até apedrejados!”, conta aos risos, por telefone.
Se a memória não lhe falha, isso foi na época do disco Õ Blésq Blom, no fim dos anos 80. Os pedregulhos foram arremessados por fãs desapontados com o fato de a banda ter interrompido o show logo de início, por conta de uma chuva braba. No fim, tiveram que sair fugidos em uma kombi.
“A maioria dos meus shows aí foi ótima. Essa história é só pra dizer que já tive tanto momentos de glória quanto de terror!”, diverte-se.
Amanhã, naturalmente, o paulistano espera que atirem nele, no máximo, flores quando ele e sua banda, Os Infernais, tocarem os primeiros acordes de Whisky a Go Go.
Ecletismo
Sobre esse sucesso do Roupa Nova, presente em qualquer festa de casamento ou de debutante que se preze, Nando também gosta de contar uma história que ilustra como essa despretensiosa canção é capaz de evocar boas memórias.
“Uma vez, na década de 90, fui com os Titãs gravar um programa no Rio, junto com várias bandas. Até que eu e o Marcelo Frommer começamos a cantar Whisky a Go Go, que adorávamos! Depois, até o Herbert Vianna veio cantar com a gente!”.
Tudo isso rolou sob olhares desconfiados do resto dos Titãs e Paralamas. “Eles não sabiam se aquilo era algo irônico ou não. Mas o fato é que eu gosto de tudo o que canto!”.
Depois de ter lançado, em 2009, Drês, seu último álbum de inéditas, Nando desejou mostrar aos seus fãs a abrangência do seu gosto musical em Bailão do Ruivão.
“A escolha do repertório privilegia músicas que estão num âmbito perimetral do meu gosto. Fiz questão de pegar musicas que estão fora do que as pessoas dizem que eu faço, seja rock, pop, ou outra coisa...”.
A intenção foi mesmo fugir da obviedade e criar novos laços musicais, ao convidar para a gravação do disco artistas como Joelma e Chimbinha, do Calypso, e Zezé Di Camargo & Luciano. “O esperado seria chamar gente como Arnaldo Antunes, Marisa Monte ou Samuel Rosa, que são meus parceiros habituais, né?”.
Nada brega Diante das suas escolhas, Nando também nega que esteja flertando com um estilo ‘brega’. Para ele, esse termo só revela uma visão preconceituosa da música, algo que repudia.
Eclético ao extremo, indo de Bee Gees (Islands in the Stream) a Zé Ramalho (Frevo Mulher) em seu Bailão, Nando afirma que é difícil existir algum tipo de música que ele se negaria completamente a cantar. “Talvez eu só não cantaria hinos de países, ou algo ligado a ideologias ou crenças... São coisas que não me atraem”, explica.
Já para quem achou que o cantor andava passando por uma entressafra criativa, Nando garante que anda compondo muitas músicas novas. “Houve entressafras, mas já estou colhendo a nova safra”, brinca, preferindo não entrar em detalhes sobre quando lançará seu décimo álbum.
Pai coruja
Depois de ter composto músicas para seus filhos, como O Mundo É Bão Sebastião e Espatódea, Nando também despista quando o repórter lhe pergunta se ele vai compor uma música para sua netinha Luzia Aurora, filha de Theo Reis. “Ah, essa música eu deixo para o Theodoro fazer!”.
A carreira musical de Theo, que canta com ele Could You be Loved?, de Bob Marley, no DVD, é motivo de orgulho para o pai coruja, que vê o filho começar a brilhar com a banda Zafenate. “O disco deles é bom pra caralho! A mistura que fazem, com muitos cantores, me remete muito aos Titãs”.
Conhecido por se posicionar com franqueza diante de assuntos espinhosos - sendo a favor da legalização do aborto e da descriminalização da maconha -, Nando termina o papo comentando sobre o reconhecimento da união homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal.
Para o artista, que declarou em dezembro à revista Billboard Brasil ser atraído tanto por mulheres quanto por homens, a decisão do STF foi uma surpresa. “O Brasil é muito conservador, e por isso eu via essa votação com um pé atrás... Esse reconhecimento mostra uma força real da sociedade que caminha nessa direção”.
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