Por Janio de Freitas (Folha de S. Paulo)
Três semanas foram suficientes para surpreender os muitos que previam um continuísmo feito de tutela, mas não só eles. A contribuição de propostas ministeriais é pouca, nem haveria tempo para muito mais, mas o estilo e as decisões de Dilma Rousseff já configuram a índole do novo governo.
A objetividade presidencial se apresenta como um princípio não citado e, no entanto, de propósito inviolável. Parecem não ter feito a passagem do ano no Planalto as orientações vagas, as reuniões ministeriais tergiversantes, a exposição discursiva de rumos e providências que se efetivariam ou não, todas carregando o seu quê de demagogia.
A determinação de objetividade concilia-se com a busca de segurança decisória, perceptível na sustação, na exigência de aprofundamento dos estudos e na reconsideração de medidas deixadas na reta final pelo governo anterior.
O quase nenhum falar externo de Dilma Rousseff surpreendeu, primeiro, pelo contraste radical, e, quando depois rompido, pela naturalidade que as testemunhas da campanha eleitoral não esperariam nunca. A era dos devaneios suarentos e longos, mal ou bem-humorados, está encerrada nas tribunas presidenciais.
Nada disso asseguraria, por si só, o acerto das decisões e da orientação de rumos que transparece nas estreias do governo. Mas está bastante clara a boa aceitação de Dilma Rousseff, e do governo por extensão, nos segmentos que têm voz e estavam na expectativa de motivos fartos e imediatos para as críticas e as pressões.
A oposição política está aturdida outra vez. Ou continua. José Serra vai ao ataque, na internet, recorrendo a situações referentes ao governo Lula. Os associados PSDB e DEM só contam com a voz e o rosto do senador Álvaro Dias, político especializado em ofertar-se às câmeras e aos microfones, o quebra-galho dos repórteres obrigados a ouvir alguém que nem precisa ter o que falar (caso do senador óbvio).
Três semanas são só três semanas. Valem, porém, como confronto entre o esperado e o inesperado. E Dilma Rousseff, nisso, reproduz o movimento inicial de Lula. Em sentido inverso, porém.
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