14/01/2010

Um breve amor de metrô


Eram seis da tarde e eu como sempre estava livre e atrasada ao mesmo tempo. A vida em Sampa é tranqueira, correria todo o dia, agonia que me fez esquecer a calmaria do interior da Bahia, de onde saí em busca dos meus sonhos. Peguei a bolsa, o jaleco e saí correndo como sempre fazia. No caminho nenhuma grande novidade, eu continuei a andar bem, bem rápido. Enfim cheguei ao metrô, seria uma longa viagem em meio ao aperto, e eu pela milésima vez olharia para o relógio, leria alguma coisa e receberia umas trinta ligações e broncas.
E eis que de repente, uma presença fez mudar-se a minha rotina. Olhei imediatamente, senti um odor convidativo, masculino, sexy. Veio em minha direção e sentou-se. Nos entreolhamos. Ele fez que ia pronunciar qualquer coisa, mas calou-se. O fez novamente, e mais uma vez calou-se.Não suportando aquela agonia, fui direta e louca:
- Está engasgado?
Ele me olhou desesperado.
- Não- Sorriu e eu morri.
-Ah, desculpe.Nossa...que louca eu né?Rs...Nunca parei pra conversar com ninguém no metrô! -Que absurdo, que merda eu disse, eu me odeio.

Ele simplesmente riu e perguntou:
-Você não é daqui, não é?
- Isso, sou baiana.
-Hum, legal.
-E você?
-Eu o quê?- Ele também parecia nervoso.
-De onde é?
-Daqui mesmo.
-E você? Ops, que doido, você já havia dito...
-Desligado você!
-É que eu preferi reparar na beleza do seu sorriso e era isso que eu tentava dizer, daí pensou que eu estivesse engasgando, de certa forma sim, mas você já me deu uma ajuda.

Eu morri, eu morri, eu morri! O metrô podia quebrar agora, a luz podia se apagar, podia dar uma pane geral na cidade lá em cima, o tempo podia me dar umas três horas a mais ali com aquele homem desconhecido, que num magnetismo surreal me atraía, me fazia desejá-lo desesperadamente. Ficamos ali conversando até que chegou a hora de sua partida. Despediu-se com um aceno e um olhar perdido em mim...E eu fiquei ali extasiada, enamorada de um transeunte qualquer. A vida se seguiu e nunca mais o vi. Quem nunca imaginou viver um amor de ônibus ou metrô? Quem nunca entrou em um metrô imaginando encontrar ali sua alma gêmea?
E vieram novos e brevíssimos amores de metrô.


Ana Paula Duarte.
Ps:Essa história é apenas um conto, em Feira não tem metrô...Só buzu sucateado...rs e aff!Portanto, aí reina apenas meu eu lírico.Beijos.

2 comentários:

Betinho da Feira disse...

Bacana. Com certeza, quando pego o buzão, penso q ali possa está a minha alma gêmea... rsrs

:.tossan® disse...

Nada é redundânte diante da tua magnitude e do teu ótimo texto Ana Paula. Adorei e já me apaixonei várias vezes em viagens curtas e longas. Acontece mesmo! Beijo