29/11/2010

Senso ao Censo

Do blog de José Roberto de Toledo

Os números definitivos do Censo 2010 começam a ser divulgados hoje pelo IBGE. Levará meses para que todos os dados sejam processados e tornados públicos. Riqueza e diversidade de informações como as que vêm por aí, para todos os municípios, só de dez em dez anos.

Por enquanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística deve divulgar os dados de população total dos 5.565 municípios brasileiros, a divisão por sexo dos moradores e a localização de sua residência, se rural ou urbana.

Parece pouco, mas já basta para escanear o Brasil literalmente de A a Z, de Abadia de Goiás à catarinense Zortéa. Do maior município, São Paulo e seus 10,7 milhões de habitantes, ao menor deles, Borá e seus 805 moradores.

As novas informações devem corrigir eventuais erros detectados nas tabelas publicadas em 4 de novembro no Diário Oficial da União. Algumas merecem investigação de outros órgãos públicos, como a Justiça Eleitoral.

Há casos mais do que curiosos. Em Dom Pedro de Alcântara (RS), na região metropolitana de Porto Alegre, há 31% mais eleitores do que moradores: 3.335 a 2.538. A diferença é recorde nacional, em termos proporcionais.

Confrontando-se os dados do TSE com os do IBGE, percebe-se que esse fenômeno se repete em outros 115 municípios brasileiros.

Eles têm “excedentes” de eleitores que variam de 1.410, como em Severiano Melo (no oeste potiguar), a apenas dois (em Professor Jamil, no sul de Goiás).

A gaúcha Dom Pedro e a catarinense Ermo se destacam por outra proeza: houve mais gente comparecendo para votar no primeiro turno das eleições deste ano do que os recenseadores do IBGE encontraram morando nas duas cidades.

Não se deve tirar conclusões precipitadas. Ambos os municípios perderam população na última década. Pode ser que esses cívicos dom-pedro-alcantarenses e ermenses tenham se mudado para outra cidade mas não transferiram seus títulos de eleitor. Surpreendente é terem voltado para votar.

Tão ou mais importante do que comparar os resultados do Censo a outras bases de dados municipais, é extrair senso das informações.

O Estado começou ontem a transformar números em histórias, numa série de reportagens de Lourival Sant’Anna. Ele narra os casos de municípios muito distintos e distantes, mas que sintetizam os vetores do crescimento do Brasil neste século.

Rio das Ostras (RJ) foi o que mais ganhou população, proporcionalmente, entre 2000 e 2010 - e sem artifícios demográficos. Isto é: exclui-se da conta o drama da paulista Balbinos, que viu sua população triplicar de uma hora para outra após a instalação de um presídio.

O balneário fluminense é a Xangrilá de milhares de funcionários e prestadores de serviço da Petrobras que se mudaram para a região de Macaé por causa da indústria do petróleo. Só para Rio das Ostras foram 65 mil novos moradores em dez anos.

A exploração mineral é uma das locomotivas das migrações internas. Por emprego em um canteiro da Vale ou por um barranco de garimpo, dezenas de milhares de pessoas desembarcaram nas paraenses São Félix do Xingu, Canaã dos Carajás, Parauapebas e Tailândia na última década.

Outro vetor capaz de transformar uma pacata cidadezinha em uma cidade média em menos de dez anos é o agronegócio. Motor demográfico do Centro-Oeste, alavancou municípios como Rio Verde, Rondonópolis e Sorriso.

Foi a soja que colocou Sapezal no mapa de Mato Grosso. Um pequeno pedaço da fazenda dos Maggi (família do ex-governador Blairo) virou uma cidade que cresce 8,28% ao ano. Quem pode reclamar da transformação do cerrado em plantação são os índios Parecis, que dão nome à chapada onde fica o município.

A outra ponta dessa corrente migratória está no oeste do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e no centro ocidental paranaense. É de lá que ainda partem muitos dos novos moradores do Centro-Oeste. São regiões que estão perdendo gente há décadas, mas não são as únicas.

Nada menos do que 30% das cidades brasileiras têm menos moradores hoje do que tinham em 2000.

Algumas cederam população para a criação de novos municípios, mas a maioria das 1.648 que decresceram viu seus habitantes partirem em busca de novas plagas.

Mas isso é assunto para outra coluna.

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