Do blog de José Roberto de Toledo
Os
números definitivos do Censo 2010 começam a ser divulgados hoje pelo
IBGE. Levará meses para que todos os dados sejam processados e tornados
públicos. Riqueza e diversidade de informações como as que vêm por aí,
para todos os municípios, só de dez em dez anos.
Por enquanto, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística deve divulgar os dados
de população total dos 5.565 municípios brasileiros, a divisão por sexo
dos moradores e a localização de sua residência, se rural ou urbana.
Parece
pouco, mas já basta para escanear o Brasil literalmente de A a Z, de
Abadia de Goiás à catarinense Zortéa. Do maior município, São Paulo e
seus 10,7 milhões de habitantes, ao menor deles, Borá e seus 805
moradores.
As novas informações devem corrigir eventuais erros
detectados nas tabelas publicadas em 4 de novembro no Diário Oficial da
União. Algumas merecem investigação de outros órgãos públicos, como a
Justiça Eleitoral.
Há casos mais do que curiosos. Em Dom Pedro de
Alcântara (RS), na região metropolitana de Porto Alegre, há 31% mais
eleitores do que moradores: 3.335 a 2.538. A diferença é recorde
nacional, em termos proporcionais.
Confrontando-se os dados do TSE com os do IBGE, percebe-se que esse fenômeno se repete em outros 115 municípios brasileiros.
Eles
têm “excedentes” de eleitores que variam de 1.410, como em Severiano
Melo (no oeste potiguar), a apenas dois (em Professor Jamil, no sul de
Goiás).
A gaúcha Dom Pedro e a catarinense Ermo se destacam por
outra proeza: houve mais gente comparecendo para votar no primeiro turno
das eleições deste ano do que os recenseadores do IBGE encontraram
morando nas duas cidades.
Não se deve tirar conclusões
precipitadas. Ambos os municípios perderam população na última década.
Pode ser que esses cívicos dom-pedro-alcantarenses e ermenses tenham se
mudado para outra cidade mas não transferiram seus títulos de eleitor.
Surpreendente é terem voltado para votar.
Tão ou mais importante
do que comparar os resultados do Censo a outras bases de dados
municipais, é extrair senso das informações.
O Estado começou
ontem a transformar números em histórias, numa série de reportagens de
Lourival Sant’Anna. Ele narra os casos de municípios muito distintos e
distantes, mas que sintetizam os vetores do crescimento do Brasil neste
século.
Rio das Ostras (RJ) foi o que mais ganhou população,
proporcionalmente, entre 2000 e 2010 - e sem artifícios demográficos.
Isto é: exclui-se da conta o drama da paulista Balbinos, que viu sua
população triplicar de uma hora para outra após a instalação de um
presídio.
O balneário fluminense é a Xangrilá de milhares de
funcionários e prestadores de serviço da Petrobras que se mudaram para a
região de Macaé por causa da indústria do petróleo. Só para Rio das
Ostras foram 65 mil novos moradores em dez anos.
A exploração
mineral é uma das locomotivas das migrações internas. Por emprego em um
canteiro da Vale ou por um barranco de garimpo, dezenas de milhares de
pessoas desembarcaram nas paraenses São Félix do Xingu, Canaã dos
Carajás, Parauapebas e Tailândia na última década.
Outro vetor
capaz de transformar uma pacata cidadezinha em uma cidade média em menos
de dez anos é o agronegócio. Motor demográfico do Centro-Oeste,
alavancou municípios como Rio Verde, Rondonópolis e Sorriso.
Foi a
soja que colocou Sapezal no mapa de Mato Grosso. Um pequeno pedaço da
fazenda dos Maggi (família do ex-governador Blairo) virou uma cidade que
cresce 8,28% ao ano. Quem pode reclamar da transformação do cerrado em
plantação são os índios Parecis, que dão nome à chapada onde fica o
município.
A outra ponta dessa corrente migratória está no oeste
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e no centro ocidental
paranaense. É de lá que ainda partem muitos dos novos moradores do
Centro-Oeste. São regiões que estão perdendo gente há décadas, mas não
são as únicas.
Nada menos do que 30% das cidades brasileiras têm
menos moradores hoje do que tinham em 2000.
Algumas cederam população
para a criação de novos municípios, mas a maioria das 1.648 que
decresceram viu seus habitantes partirem em busca de novas plagas.
Mas isso é assunto para outra coluna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário