22/02/2011

Mercado reduz PIB e acelera inflação: isso tem lógica?

Economistas ouvidos por EXAME.com dizem que o esfriamento da economia brasileira não será suficiente para salvar o centro da meta de inflação em 2011


As projeções inflacionárias pioram a cada semana, gerando um consenso de que o centro da meta (4,5%) não será atingido neste ano. Ao mesmo tempo, em resposta a medidas monetárias e fiscais, boa parte do mercado está reduzindo as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Se a economia vive um processo de desaceleração, por que os analistas continuam inflando as perspectivas para o IPCA?

No final do ano passado, a expansão da economia brasileira acima dos 4% em 2011 era dada como certa pela ampla maioria. No entanto, o piso das expectativas está virando teto para algumas consultorias. Na Tendências, o crescimento do PIB neste ano foi revisado de 4,4% para 3,9%. “A produção industrial está abaixo do esperado e a massa salarial não deve avançar tanto”, diz o analista Rafael Bacciotti.

A consultoria Rosenberg & Associados está com viés de baixa para a variação de 4,5% do PIB. “Além do fraco desempenho da indústria, o comércio vai mostrar uma desaceleração”, diz a economista-chefe Thaís Zara.

Enquanto o ajuste fiscal de R$ 50 bilhões permanece envolto por um ar misterioso, as chamadas medidas macroprudenciais, anunciadas pelo Banco Central (BC) em dezembro do ano passado, despertam mais dúvidas do que certezas. Até que ponto elas estão sendo capazes de reduzir o crédito? Um balanço parcial divulgado recentemente pelo próprio BC trouxe algumas pistas. “Nós acreditamos que essas medidas somadas a mais duas altas de meio ponto percentual nos juros terão um efeito importante, embora os preços no segmento de serviços ainda devam seguir bastante pressionados”, avalia Fábio Romão, economista da LCA Consultores, que reduziu de 4,3% para 3,6% a previsão de alta do PIB neste ano.

O boletim Focus do Banco Central ainda mantém em 4,5% a mediana das expectativas para a expansão da economia brasileira neste ano. No entanto, um olhar mais atento mostra que a média das estimativas já está num nível inferior, o que deve ser sentido nas próximas pesquisas do mercado.

O professor do departamento de Economia da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, não pretende reduzir agora a sua projeção para a elevação do PIB neste ano, atualmente entre 4% e 4,5%.Porém, ele reconhece que a economia brasileira está em desaceleração e que a inflação deste ano já está “mais ou menos dada”, na casa dos 5,8% – distante do centro da meta.

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