Por ROBERTO VIEIRA
Quando o primeiro ser humano se despediu, havia apenas a tristeza no olhar e um vazio na garganta.
Não haveria novo encontro e o futuro era elemento desconhecido e inimaginável.
No céu, estrelas e constelações iluminavam a solidão da despedida, silenciosas nebulosas na escuridão do universo.
O coração cansado de sofrer calado, balbuciou nos lábios de quem ficava a palavra ‘adeus’.
Como se pudessemos encaminhar o ser amado para o convívio de um ser supremo e invisível que tomasse conta de todas as almas exiladas na vastidão do tempo.
Assim nasceu o ‘adeus’.
Como súplica dos mortais diante do vazio da separação.
Um lembrete encaminhando os viajantes aos deuses.
No futebol, como em todas as atividades humanas, e de forma mais cruel posto que precoce, a platéia murmura adeus aos ídolos que se vão do campo de jogo.
Foi assim com Friedenreich, cigano das cidades do interior de Minas e São Paulo.
Foi assim com Garrincha, espetáculo de circo itinerante em tudo que era beco do Brasil tropical.
Foi assim com Puskas na Budapeste devastada e na Madri imperial.
Foi assim com Di Stefano, mudando de cidade para continuar a fazer seus truques em gramados catalães.
Foi assim até com Pelé, rei do adeus em cada esquina do planeta.
Todos receberam a mesma palavra dos seus fãs: Adeus.
E nesse exato momento da palavra final, quando todo mortal se torna partícula do nada, eis que a realidade se prova mais uma vez singular.
O adeus, que deveria ser o ponto final da existência, a curva do horizonte de quem partiu para não voltar.
Este ‘adeus’ se transforma em lembrança terna e irresistível.
Fragmento da paixão que une cada homem ao seu passado e a sua memória.
O menino que sonha com seu pai desejando boa noite.
A mãe que embala o berço do filho invisível.
O apaixonado que percebe sua amada nas flores do jardim de cada praça.
O torcedor que recorda do craque pelos sorrisos e tristezas nas tardes de domingo.
Como fragmento indelével da própria existência no planeta Terra.
O adeus, palavra melancólica e sombria, adquire o dom da poesia.
E a poesia marca um gol na eternidade…
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