14/02/2011

O adeus dos fenômenos

Por ROBERTO VIEIRA

Quando o primeiro ser humano se despediu, havia apenas a tristeza no olhar e um vazio na garganta.

Não haveria novo encontro e o futuro era elemento desconhecido e inimaginável.

No céu, estrelas e constelações iluminavam a solidão da despedida, silenciosas nebulosas na escuridão do universo.

O coração cansado de sofrer calado, balbuciou nos lábios de quem ficava a palavra ‘adeus’.

Como se pudessemos encaminhar o ser amado para o convívio de um ser supremo e invisível que tomasse conta de todas as almas exiladas na vastidão do tempo.

Assim nasceu o ‘adeus’.

Como súplica dos mortais diante do vazio da separação.

Um lembrete encaminhando os viajantes aos deuses.

No futebol, como em todas as atividades humanas, e de forma mais cruel posto que precoce, a platéia murmura adeus aos ídolos que se vão do campo de jogo.

Foi assim com Friedenreich, cigano das cidades do interior de Minas e São Paulo.

Foi assim com Garrincha, espetáculo de circo itinerante em tudo que era beco do Brasil tropical.

Foi assim com Puskas na Budapeste devastada e na Madri imperial.

Foi assim com Di Stefano, mudando de cidade para continuar a fazer seus truques em gramados catalães.

Foi assim até com Pelé, rei do adeus em cada esquina do planeta.

Todos receberam a mesma palavra dos seus fãs: Adeus.

E nesse exato momento da palavra final, quando todo mortal se torna partícula do nada, eis que a realidade se prova mais uma vez singular.

O adeus, que deveria ser o ponto final da existência, a curva do horizonte de quem partiu para não voltar.

Este ‘adeus’ se transforma em lembrança terna e irresistível.

Fragmento da paixão que une cada homem ao seu passado e a sua memória.

O menino que sonha com seu pai desejando boa noite.

A mãe que embala o berço do filho invisível.

O apaixonado que percebe sua amada nas flores do jardim de cada praça.

O torcedor que recorda do craque pelos sorrisos e tristezas nas tardes de domingo.

Como fragmento indelével da própria existência no planeta Terra.

O adeus, palavra melancólica e sombria, adquire o dom da poesia.

E a poesia marca um gol na eternidade…

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