29/03/2011

O Brasil perde José Alencar


Chamado por muitos de "guerreiro", o mineiro José Alencar, que morreu aos 79 anos nesta terça-feira, marcou sua passagem na vice-presidência da República entre 2003 e 2010 pela cruzada obstinada contra o câncer. Não há brasileiro que não o tenha visto entrar e sair de hospital ou acompanhar suas idas e vindas na UTI.

A doença o acompanhou por 14 anos, em que ele precisou passar por 17 cirurgias para retirada de tumores. Aceitou todo tipo de tratamento durante esse período. Além das cirurgias, quimioterapia e até um procedimento experimental nos Estados Unidos.

Alencar enfrentou a doença com otimismo e sem escondê-la da opinião pública. A cada vez que deixava o hospital, apresentava um sorriso no rosto e, de terno e gravata e passos firmes, falava aos jornalistas.

Em 1997, foram detectados os primeiros tumores malignos. O rim direito e dois terços do estômago foram retirados. Cinco anos depois, outro tumor, dessa vez na próstata, que foi removida. Em julho de 2006, surgiu um tumor maligno no abdome. Apesar de removido, foi este que voltou várias vezes, até perfurar seu intestino agora em fevereiro.

"Eu não estou habituado às coisas fáceis. Eu sempre me deparei na vida com problemas difíceis e nunca deixei de enfrentá-los", disse, após uma das operações. E aconselhava: "O desespero não ajuda em nada."

O jornalista Ricardo Kotscho, que foi secretário de imprensa da Presidência da República no governo Lula, o visitou no hospital Sírio-Libanês no mês passado -hospital que abrigou o ex-vice na maior parte de sua doença.

"Falante e animado como de costume, embora esteja bastante debilitado pela doença, Alencar recordou histórias de Carantinga, no interior mineiro", contou Kotscho em seu blog. Disse ainda que durante a visita Alencar cantou velhos sambas de Noel Rosa.

Alencar chegou a ser operado durante a campanha eleitoral de 2006 para retirada de um dos tumores na região abdominal. Passada a reeleição vitoriosa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou o esforço do companheiro de chapa, chamando-o de "jovial".

"Quero de público agradecer a participação jovial do meu vice-presidente da República. O Zé Alencar, durante o processo eleitoral, fez uma cirurgia, os médicos não queriam que ele fizesse carreata e, por onde eu andava, o Zé Alencar já tinha participado como se fosse um menino de 18 anos", disse Lula na época.

A cirurgia mais radical ocorreu em janeiro de 2009. Alertado da complexidade, Alencar ficou na mesa de cirurgia por 17 horas, quando extraiu 18 pequenos tumores e foi submetido a quimioterapia ao mesmo tempo.

Em maio daquele ano, o câncer voltou e o vice-presidente decidiu passar por um tratamento experimental nos Estados Unidos que ele afirmava estar surtindo efeito. "Temos boas notícias. O resultado da tomografia mostra uma reação do medicamento sobre o tumor", disse, em julho de 2009.

Católico, sempre evocava a figura de Deus em suas declarações. "Ninguém manda na vida, o dia que Deus quiser me levar, me leva mesmo e não precisa de câncer para levar."

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