Para Serginho Groisman, a Educação deveria vir em primeir lugar entre as prioridades de uma nação |
Eu fui um dos que achavam que a escola era pura obrigação. Quase sempre foi assim. Minhas obrigações eram pouco prazerosas. O trinômio "física", "química" e "matemática" era meu Triângulo das Bermudas. Sempre me perdia em raciocínios que nunca avançavam e minhas notas afundavam como barcos em tsunamis.
Mesmo a aula de Literatura era uma sopa de letras indigesta. Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado só viriam a ter meu profundo amor depois de um fato acontecido no terceiro colegial.
Eu tinha uma classe com 15 pessoas. E no começo do ano foi anunciado que viria uma nova professora de Literatura. A professora Ewellin chegou tímida e logo foi dizendo: "Nesse primeiro semestre nós só vamos estudar um autor, um único poeta". A classe toda estranhou. Afinal iríamos ler só um dos autores brasileiros ou portugueses? A obra completa de um deles seria suficiente para entender os outros?
Sem que a gente pudesse terminar qualquer raciocínio ela continuou: "Vamos ler Fernando Pessoa. Mas não sua obra completa. Apenas um poema: A Tabacaria".
Na semana seguinte, começou a experiência mais extraordinária que já tive para meu conhecimento. Durante um semestre inteiro fomos lendo e discutindo frase por frase de um poema que começava com "Eu não sou nada".
Só essa frase levou a uma conversa sobre a poesia e sobre nós mesmos durante semanas. Era Fernando Pessoa saindo dos livros e entrando em nossa vida como um psicólogo, orientador, escritor, amigo, pensador. Depois desse curso, todos os autores viraram amigos íntimos de nossa classe.
Enfim o prazer de ir até a escola e o prazer da leitura apareceu em tempo. Devo muito a minha professora e devo muito a Fernando Pessoa. Hoje tenho certeza que ler é uma caminho. Melhor: um atalho para o conhecimento. Para a Educação.
Serginho Groisman é jornalista, ator e apresentador de televisão. Atualmente está no comando do "Altas Horas", da Rede Globo
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