24/05/2011

Mãe de Cazuza lança livro sobre trabalho em ONG dedicada aos portadores de HIV

Cazuza foi  uma das vítimas do vírus HIV

Quem liga para a casa de Lucinha Araújo, enquanto a aguarda atender a chamada, ouve a gravação de Exagerado, um dos grandes hits de Cazuza. A mãe do roqueiro tem se empenhado de todas as formas para preservar a memória do filho. Uma delas - a de maior visibilidade - é manter em funcionamento há 20 anos a Sociedade Viva Cazuza, que dá suporte a crianças e adolescentes portadores de HIV.

Perguntada se o trabalho à frente da ONG preenche o vazio da ausência do poeta, emocionada e enfática, Lucinha responde: "A convivência com as crianças que acolho na casa dá sentido à minha vida, mas não quero que isso venha a ocupar o vazio com a perda do Cazuza. Ao contrário, para mim, é de importância fundamental mantê-lo vivo na memória. Até porque ele está presente em tudo que faço".

Faz sentido. Cazuza era filho único e para Lucinha, lidar com os abrigados da Sociedade a trouxe de volta o instinto maternal. Vê-los brincando, estudando, cantando, faz uma remissão ao seu próprio passado. "Tentamos criar nossos filhos baseados em nossas experiências, mas também nas que não tivemos. Se não pude vislumbrar na infância do meu filho quem ele seria, que árvores, flores ou frutos darão essas sementes que estamos cultivando?", questiona, ao referir-se a crianças que acolhe.

Lucinha e crianças do Viva Cazuza
As experiências como diretora da ONG levou Lucinha a escrever O tempo não para - Viva Cazuza, um misto de biografia e memória, que acaba de sair pela Editora Globo.

O tempo não para traz muitas histórias sobre as crianças e adolescentes que recebeu na instituição, reunidas nas duas últimas décadas e contadas com naturalidade por Lucinha. Uma delas é a de Lucas, cuja mãe era interna do hospital Pinel e levou o filho depois de ter pulado o muro da Sociedade. Outra, é a de Newton, a criança número um da casa, com quem Lucinha confessa ter maior afinideade. Ela orgulha-se de ter dado bom encaminhamento a Pedro, que vai fazer 18 anos e vive de forma saudável.

"Ele é estudante do curso técnico em áudio e vídeo da Faetec, uma escola estadual que fica no bairro de de São Cristovão, e pretende trabalhar com televisão e cinema. Há, também, o Tiago, que já deixou a casa e, aos 22 anos, trabalha no grupo Pela Vidda, ONG fundada pelo Betinho (o sociólogo Herbert de Souza, morto em agosto de 1997) - todos os nomes dos personagens são fictícios.

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