15/05/2011

Quem não tem problemas sexuais?

Se todo mundo tem problemas sexuais, certamente o espectador vai se identificar com uma das cinco histórias exploradas no filme de Domingos Oliveira, que estreou (intencionalmente ou não) na sexta-feira, 13. Ou vai rir delas, já que se trata de um filme é de humor. Todo mundo tem problemas sexuais é uma adaptação da peça homônima que ficou 10 anos em cartaz, teve um público de mais de 400 mil pessoas, e ganhou prêmios. A peça é baseada em cartas enviadas à coluna do jornal O Globo "Vida Íntima", de Alberto Goldin.

No elenco estão Pedro Cardoso, Cláudia Abreu, Priscilla Rozenbaum, Paloma Riani, Orã Figueiredo e Ricardo Kosovski. O filme mescla imagens de estúdio com gravações de teatro e ensaios – mistura algumas vezes curiosa, outras elucidativas: a atuação no teatro é realmente diferente daquela prestada no cinema. E Pedro Cardoso brilha em ambas. O que o espectador verá é uma sequência de cinco histórias, ou cinco cartas, de pessoas que passaram por problemas de relacionamento. Esses causos poderiam ter sido vividos por um amigo próximo, mas é bem possível que você jamais saiba disso.

As histórias, reais, falam sobre impotência (usar Viagra sem avisar o parceiro é traição?), perversão (a tara de ir para a cama com outros casais), sedução (fazer jogos sexuais ou fingir desinteresse?), desejo (o que revelar e o que manter oculto) e sobre preferências sexuais aliadas ao preconceito (uma exclui a outra?).

De sua casa, no Rio de Janeiro, Oliveira, de 74 anos, conversou com ÉPOCA sobre o longa. "Sexo é muito interessante. Sexo é o assunto do milênio", afirma o diretor. No entanto, ele diz que a época mais contida de sexo é que a que estamos vivendo agora. "Eu nunca vi o sexo ser tão reprimido", diz, culpando, em parte, sua própria geração. Alguns sentimentos, no entanto, permanecem os mesmo ao longo do tempo. "O ciúme, a paixão e o tesão são questões essenciais e mudam pouco", afirma.

Para ele, entre todas as experiências humanas, a mais reveladora para saber como a pessoa realmente é acontece na cama. "É uma ferramenta de conhecimento do ser humano imensa, de dor e prazer", afirma. Daí ele considerar que a peça deveria ir para as telas de cinema. Questionado se já passou por algum dos problemas relatados no filme, ele responde: "Eu não sou muito disso, eu não tenho perversões".

Ao misturar as linguagens teatrais e cinematográficas, Oliveira quer transmitir a magia e a informalidade do teatro para o cinema. Ele acha que discutir sobre se o filme é mais um ou outro é "papo cabeça". "O importante é que o filme tem histórias da vida real contadas com grande sinceridade, com grande franqueza", diz.

Por ser uma produção experimental, essa discussão se perde para ele. Em seu blog, Oliveira escreveu que o filme foi exibido em plateias das zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro. "Enquanto o espectador da Zona Sul intrigava-se com a linguagem experimental do filme (é um filme completamente diferente dos outros) o público da Zona Norte seguia as histórias, rindo e comentando, como se estivesse num jogo de futebol. Esta é a informalidade que este filme provoca", escreve.

Alguma coisa do humor do teatro pode parecer demais no cinema, mas só em alguns momentos. O filme tem mais altos que baixos, e histórias realmente íntimas e divertidas, com personagens que se gostam muito. "Todos se amam muito, não é frio", diz o diretor. Para ele, sexo frio não é sexo, porque "brocha". E quem pode discordar dele?

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