Veja os principais trechos da entrevista de Mark Prensky, autor que cunhou as expressões "nativos" e "imigrantes digitais".
Professores sabem mexer menos no computador do que alunos
Folha - Como o senhor define nativos e imigrantes digitais?
Marc Prensky - Nativos digitais são aqueles que cresceram
cercados por tecnologias digitais. Para eles, a tecnologia analógica do
século 20 --como câmeras de vídeo, telefones com fio, informação não
conectada (livros, por exemplo), internet discada-- é velha. Os nativos
digitais cresceram com a tecnologia digital e usaram isso brincando, por
isso não têm medo dela, a veem como um aliado. Já os imigrantes
digitais são os que chegaram à tecnologia digital mais tarde na vida e,
por isso, precisaram se adaptar.
Quais são as características dos imigrantes digitais?
Muitos têm dificuldade em deixar antigos métodos para trás. Exemplos
disso são imprimir e-mails ou não usar a internet como primeira fonte de
informação. A distinção é mais cultural e de atitude.
Um imigrante digital consegue ensinar um nativo digital?
Depende do que você entende por "ensinar". Se você quer saber se os mais
velhas podem orientar os mais novos, fazendo as perguntas certas, a
resposta é "sim". Se você quer saber se os jovens vão ouvir os mais
velhos falar sobre coisas que não acham importantes, a resposta é "não".
A educação precisa ser menos sobre o sentido de contar, e mais sobre
partilhar, aprender junto.
O aprendizado está mudando?
Não. O que está mudando são as ferramentas que ajudam na aprendizagem.
Gosto de distinguir os verbos e os substantivos nesse tema. Os verbos
ligados ao aprendizado --comunicar, pensar, apresentar, persuadir etc.--
continuam os mesmos. Os substantivos que usamos com esses verbos mudam
rapidamente.
O senhor pode dar exemplos?
As apresentações costumavam ser feitas em trabalhos normais. Hoje são
feitas por Power Point e amanhã serão feitas de outro jeito. A
comunicação era por cartas, hoje é por e-mail e amanhã pode ser feita
por programas de computador. Você pode usar um programa para ajudar a
pensar criticamente, mas o aprendizado continua o mesmo.
A tecnologia mudou as relações na sala de aula?
Em cada lugar há um efeito diferente. Em alguns casos, reforçou as
relações, conectou professores e alunos isolados. Em outros, trouxe
medo, desconfiança, desrespeito mútuo. Por exemplo, um professor pode
pensar que os alunos têm a concentração de um inseto. Os alunos podem
pensar que os professores são analfabetos digitais. É quase impossível o
aprendizado ocorrer em circunstâncias assim. O que a gente precisa é de
respeito mútuo entre professores e estudantes.
O papel dos professores mudou em comparação com o das décadas de 80 e 90?
Sim. O papel do professor está mudando gradualmente. Está deixando de
ser apenas o de transmissor de conteúdo, disciplinador e juiz da sala de
aula para se tornar o de treinador, guia, parceiro. A maioria dos
professores está em algum lugar no meio; poucos são parceiros de
verdade.
E continua mudando?
Sim. E precisa continuar mudando se os professores quiserem ajudar os
alunos do século 21 a aprender. Alguns acham que a pedagogia vai mudar
automaticamente, assim que os "nativos digitais" se tornarem
professores. Eu discordo. Há pressões forçando os professores novos a
adotar métodos antigos. Nós precisamos fazer um grande esforço de
mudança. Primeiro, mudar a forma como nós ensinamos --nossas pedagogias.
Depois, mudar a tecnologia que nos dá suporte. Finalmente, mudar o que
nós ensinamos --nosso currículo-- para estarmos em acordo com o contexto
e as necessidades do século 21.(Folha)
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