O documentário Rock Brasília, era de ouro tem muitos méritos. O principal deles é o de cumprir a função de colocar a história a limpo, mesmo que a necessidade de se detalhar a narrativa torne o filme, mais ou menos até a metade, um pouco monótono, principalmente para quem não viveu intensamente os anos 80. Mas a monotonia é aceitável, tendo como contrapartida o detalhamento histórico. Portanto, não desista de assistí-lo, até porque, do meio para a frente, tudo melhora.
A obra é praticamente uma coleção de depoimentos, e conseguiu reunir as pessoas certas. Uma grande sacada dos diretores foi a inclusão dos pais de alguns dos personagens principais. Destaque para o professor Briquet, pai de Fê e Flávio Lemos, do Capital Inicial. Em depoimentos apaixonados, o intelectual da UnB mostra o ponto de vista dos pais naquela época, numa espécie de lado B de uma história que só mesmo o contexto dos anos 80 permitiria.
Ao longo do documentário, a quase inacreditável história de um bando de meninos de Brasília que chega ao estrelato nacional sem usar subterfúgios como o nefasto jabá ou a carteirada - parte da garotada era filho de figurões em Brasília - começa a ter seus motivos expostos aos poucos.
Por falar em jabá, o filme também serve para situar no tempo o surgimento da prática, que, quem diria, não começou nas rádios, mas num conceituado programa de TV de uma prestigiosa emissora. Mérito para Dinho e seu Capital Inicial, que não se fizeram de rogados e puseram a boca no trombone.
Como ocorreu na época, o aparecimento de Renato Russo no filme também muda o rumo do documentário. Depoimentos do líder da Legião Urbana, colhidos no auge da idolatria, falam sobre o início da banda, as surpresas com o sucesso das letras rebuscadas de Renato e das intempéries causadas pelo frenesi dos fãs, simbolizadas por um desastroso show no Estádio Mané Garrincha. A participação da família de Renato Russo também é importantíssima no filme, com a irmã e a mãe do cantor abrindo o jogo e não deixando pedra sobre pedra.
Méritos também para a turma da Plebe Rude, apesar da falta do depoimento de Jander, célebre guitarrista-base do grupo. O filme não conta, mas Jander vive hoje na pacata São Pedro da Serra, distrito de Nova Friburgo (RJ), onde trocou a guitarra pela viola caipira. Nessa, o filme comeu mosca.
A partir do lançamento de Rock Brasília, o acervo histórico que explica como e por que aquele bando de loucos mudou a história da música - do mercado à comunicação - no Brasil ganha mais um documento importantíssimo.
O filme deixa ainda uma grande lição, que nem todos talvez consigam observar de início: a de que o surgimento daquela geração só foi possível por ter sido expontânea, e não um produto de meia dúzia de marqueteiros que, hoje, insistem em fabricar pseudo-revelações, que viram escravos do jabá institucionalizado por rádios e TVs, e não duram mais que alguns poucos anos. Que o filme sirva de alerta e lição.
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