Acusado pelo PT de ter deixado para Lula um legado maldito, Fernando Henrique Cardoso começa a ir à forra.
O grão-tucano afirma agora que Dilma Rousseff herdou de Lula um ministério com aparência de lixo:
"Ela levou o ano todo com o peso morto desse entulho. Ela tem de se livrar desse entulho", declarou FHC, em entrevista à radio Estadão ESPN.
A despeito da queda de sete ministros, seis dos quais sob suspeita de corrupção, FHC insinua que Dilma é tolerante com malfeitores.
"Tem de haver um pouco mais de responsabilização", disse. "Tem suspeita? Tem de cair fora."
FHC vangloriou-se: "Eu nunca tive leniência ou tolerância." Hoje, disse ele, transfere-se a responsabilidade para os partidos.
Avalia que o fenômeno da partidarização faz da corrupção parte do jogo político. "Acho isso muito grave", disse.
Para FHC, o condomínio partidário de Dilma é “maior que o necessário. Se ela dispensar um ou dois partidos, não acontece nada."
Enxerga na reforma ministerial anunciada para o início de 2012 uma oportunidade para a virada. Recomenda “coragem” a Dilma.
"Acho que ela tem uma bela chance de atuar firmemente."
Atribui parte das transgressões que infestam o noticiário ao sistema político clientelista. "Nossa cultura aceita transgressões."
Numa frágil concessão ao óbvio, FHC admitiu que -talvez, é possível, quem sabe?!?- pode ter ocorrido roubalheira também nos seus dois mandatos.
"Não vou dizer que não teve corrupção no meu governo, provavelmente sim."
Correto nas observações que faz sobre o governo atual, FHC é leniente com sua ex-presidência.
A administração tucana também foi marcada pela ocupação predatória da Esplanada. Sob FHC, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi ministro da Justiça. Repetindo: da Justiça!
Gente como o ex-senador Ney Suassuna (PMDB-PB) ocupou a pasta da Integração Nacional.
Políticos como Jader Barbalho (PMDB-PA) mandaram e, sobretudo, desmandaram na Sudam. Produziu-se ali um rombo estimado em R$ 3 bilhões.
A distribuição de emendas já era farta nessa época. Embora descobertos mais tarde, escândalos como o das Sanguessugas começaram na Era tucana.
Num ponto, FHC soou incontroverso. Viciado em fisiologismo e patrimonialismo, o sistema político brasileiro criou uma espécie de cultura da transgressão.
Aceita-se tudo, o anormal passa por normal. De José Sarney a FHC, os governos demoraliram a administração pública, submetendo-a aos partidos.
Lula vendeu os escombros. Dilma faz cara de nojo e simula a intenção de promover a autópsia do modelo. Mas, por ora, limita-se a administrar as ruínas do arcaico.
- Em tempo: na mesma entrevista, FHC falou sobre a eleição municipal de São Paulo, que definiu como uma disputa entre "japoneses". Aqui, a notícia. Vale a leitura. (Josias de Souza)
Nenhum comentário:
Postar um comentário