13/12/2011

FHC: a Dilma ‘tem de se livrar do entulho’ que herdou

Acusado pelo PT de ter deixado para Lula um legado maldito, Fernando Henrique Cardoso começa a ir à forra.

O grão-tucano afirma agora que Dilma Rousseff herdou de Lula um ministério com aparência de lixo:

"Ela levou o ano todo com o peso morto desse entulho. Ela tem de se livrar desse entulho", declarou FHC, em entrevista à radio Estadão ESPN.

A despeito da queda de sete ministros, seis dos quais sob suspeita de corrupção, FHC insinua que Dilma é tolerante com malfeitores.

"Tem de haver um pouco mais de responsabilização", disse. "Tem suspeita? Tem de cair fora."

FHC vangloriou-se: "Eu nunca tive leniência ou tolerância." Hoje, disse ele, transfere-se a responsabilidade para os partidos.

Avalia que o fenômeno da partidarização faz da corrupção parte do jogo político. "Acho isso muito grave", disse.

Para FHC, o condomínio partidário de Dilma é “maior que o necessário. Se ela dispensar um ou dois partidos, não acontece nada."

Enxerga na reforma ministerial anunciada para o início de 2012 uma oportunidade para a virada. Recomenda “coragem” a Dilma.

"Acho que ela tem uma bela chance de atuar firmemente."

Atribui parte das transgressões que infestam o noticiário ao sistema político clientelista. "Nossa cultura aceita transgressões."

Numa frágil concessão ao óbvio, FHC admitiu que -talvez, é possível, quem sabe?!?- pode ter ocorrido roubalheira também nos seus dois mandatos.

"Não vou dizer que não teve corrupção no meu governo, provavelmente sim."

Correto nas observações que faz sobre o governo atual, FHC é leniente com sua ex-presidência.

A administração tucana também foi marcada pela ocupação predatória da Esplanada. Sob FHC, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi ministro da Justiça. Repetindo: da Justiça!

Gente como o ex-senador Ney Suassuna (PMDB-PB) ocupou a pasta da Integração Nacional.

Políticos como Jader Barbalho (PMDB-PA) mandaram e, sobretudo, desmandaram na Sudam. Produziu-se ali um rombo estimado em R$ 3 bilhões.

A distribuição de emendas já era farta nessa época. Embora descobertos mais tarde, escândalos como o das Sanguessugas começaram na Era tucana.

Num ponto, FHC soou incontroverso. Viciado em fisiologismo e patrimonialismo, o sistema político brasileiro criou uma espécie de cultura da transgressão.

Aceita-se tudo, o anormal passa por normal. De José Sarney a FHC, os governos demoraliram a administração pública, submetendo-a aos partidos.

Lula vendeu os escombros. Dilma faz cara de nojo e simula a intenção de promover a autópsia do modelo. Mas, por ora, limita-se a administrar as ruínas do arcaico.

- Em tempo: na mesma entrevista, FHC falou sobre a eleição municipal de São Paulo, que definiu como uma disputa entre "japoneses". Aqui, a notícia. Vale a leitura. (Josias de Souza)

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