Empenhada em minimizar o desgaste provocado pela compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), a presidenta Dilma Rousseff só vai anunciar uma decisão final sobre o negócio depois de obter um parecer do Conselho de Defesa Nacional. Alvo de pressão internacional por uma definição, Dilma deve convocar uma reunião do órgão especificamente para tratar do assunto, depois de concluir a análise do relatório que encomendou ao Ministério da Defesa sobre a negociação.
Previsto na Constituição, o Conselho de Defesa Nacional tem a tarefa de assessorar a presidenta em questões relacionadas à segurança nacional. Na prática, o órgão permitirá a Dilma dividir a responsabilidade e o desgaste internacional que possa resultar da escolha com membros de sua própria equipe de governo. Isso porque, por lei, o conselho é formado pelo vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, ministros militares, além dos ministros da Justiça, Relações Exteriores, Fazenda e Planejamento.
Dilma reacendeu a polêmica sobre a compra dos caças na semana passada, ao suspender o processo de escolha para estudar a fundo as três propostas colocadas na mesa – a da francesa Dassault, que produz o caça Rafale; a da americana Boeing, fabricante do F-18 Super Hornet; e a da sueca Saab, que fornece o Gripen NG. A expectativa, agora, é de que a escolha do modelo que vai equipar a FAB demore pelo menos de quatro a seis meses para sair. O negócio, quando for concluído, pode se aproximar da casa de R$ 10 bilhões.
Nos últimos dias, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, empenhou-se em negar a versão de que Dilma tenha a intenção de recomeçar do zero a negociação, cogitando inclusive a possibilidade de receber novas propostas. A versão oficial é a de que a presidenta pediu apenas para conhecer melhor o tema antes de se pronunciar, já que herdou a negociação iniciada pelo antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com interlocutores do governo, entretanto, o freio nas negociações com a França foi acionado meses atrás, pelo próprio Lula. Ele sempre manifestou abertamente sua preferência pelo Rafale e chegou a sugerir que faltava apenas dar caráter formal à parceria. Mas o ex-presidente, segundo aliados, teria se incomodado com a postura adotada pelo colega francês Nicolas Sarkozy na época em que foi anunciado o acordo nuclear firmado entre Irã, Brasil e Turquia no ano passado.
A decisão de Dilma de reavaliar as negociações provocou reação imediata do governo francês, que esperava uma definição favorável ao Rafale. Ao mesmo tempo, reacendeu o discurso norte-americano em favor do F-18. Nomes como o senador John McCain, que esteve com Dilma neste mês, e a própria Boeing voltaram a flertar com promessas sobre a transferência de tecnologia para o Brasil – principal diferencial da proposta francesa.
No Ministério da Defesa, entretanto, ainda predominam os argumentos em favor do avião francês. O mais usado é o de que, mesmo que a Boeing aceite dividir com o Brasil a tecnologia envolvida na produção do F-18, o Congresso americano tende a barrar qualquer iniciativa nesse sentido.
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