31/01/2011

Sem mandato, Geddel avisa que vai começar de novo

Ao término da disputa eleitoral de 2010, o então candidato do PMDB ao governo da Bahia, Geddel Vieira Lima se considerou derrotado pelo presidente Lula. Ele e a ex-ministra Dilma Rousseff tinham acertado que haveria dois palanques, mas turbinaram – com êxito – a campanha de Jaques Wagner (PT) à reeleição. A partir de 3ª feira (1º), Geddel começa um nova fase da trajetória política, marcada pelo resultado das urnas: estará sem mandato. Como o PMDB está em 117 prefeituras da Bahia, este será o principal foco de sua atenção a partir de agora, sem deixar Salvador em segundo plano, claro. “Vamos começar de novo”, avisa. A seguir, os principais trechos da entrevista do peemedebista ao Bahia Toda Hora.
Quais são os seus planos para 2012?

Não há planos para 2012, sem 2011. A partir de 31 de janeiro, nossa atenção estará voltada para o PMDB da Bahia. Vamos viajar pelo interior, estimular a militância, reestruturar o partido na capital e no interior; mobilizar um corpo técnico para discutir projetos para Salvador e para a Bahia nas áreas como de segurança pública, infraestrutura, saúde etc. É preciso apresentar propostas e dizer de onde vem o dinheiro para investimento. Mostrar à sociedade que nesta política da Bahia em que todos estão de um lado só, nós podemos ser uma alternativa real e concreta para o futuro do Estado.

Muitos prefeitos preferem migrar logo para o governo, não é?�

Isso decorre da visão de federação distorcida que nós temos. O município é o agente que – em tese- menos participa do bolo tributário. Os prefeitos ficam com a sensação de que precisam estar politicamente atrelados ao governo, o que é uma distorção. O prefeito pode conversar com o governador seja ele quem for desde que na hora da política esteja ao lado dos seus, ao lado do seu partido, que lhe deu legenda e lhe sustenta num projeto político.

A movimentação dos prefeitos no partido é como a maré, hora cheia, hora vazante?

É isso aí. Perfeita a definição.

Como será a reorganização do partido?

Temos feito reuniões da Executiva do PMDB a cada 15 dias, para a reestruturação do partido. A ideia é analisar desempenho eleitoral nos municípios. Verificar onde fomos bem, onde não fomos bem. Onde temos liderança, onde o partido precisa ser fortalecido, buscar novas forças para 2012. O nosso hino é: começar de novo.

Qual foi o maior erro do PMDB?

Não houve erro. PMDB disputou eleição e perdeu. Agora, é sacudir a poeira, levantar a cabeça e dar a volta por cima. As pessoas, às vezes, esquecem que perder ou ganhar são faces da mesma moeda. O atual governador perdeu uma eleição em Camaçari; perdeu uma eleição para o Governo da Bahia e perseverou. O presidente Lula perdeu três eleições e era o mesmo homem. Nós não erramos. Acreditamos na tese dos dois palanques, construímos um discurso que estava indo bem. Mas com a posição do presidente Lula e da então candidata Dilma, este discurso perdeu a aderência. Perdemos a eleição. Ainda assim, tivemos mais de um milhão de votos, o que nos credencia para ser uma voz importante na fiscalização, na crítica, no acompanhamento dos atos de governo. Não vejo erros, nem tenho arrependimentos.

Como fortalecer o PMDB para 2012?

Com projeto bem claros, idéias, apresentação à sociedade daquilo que é possível fazer, numa visão global do estado. No caso de Salvador, é preciso dizer como é possível enfrentar os grandes problemas de infraestrutura, o custeio da máquina.

Quando o PMDB de Salvador se apresentar à população de Salvador não será responsabilizado pelo desacerto da administração do prefeito João Henrique?

Claro que os adversários vão usar isso. Mas João Henrique é um camaleão da política e termina colocando suas cores sobre todos. O que o PT vai dizer? Outro dia, um militante petista entrou no twitter e disse: não queiram se afastar de João Henrique. Vocês têm que segurar a alça desse caixão. Lembrei a ele o seguinte: defunto por defunto, vocês entendem mais, afinal Neylton (servidor público municipal, morto em 07.01.2007) caiu lá na Secretaria de Saúde de Salvador. Se alguém inventou João Henrique, não foi o PMDB. Além disso, objetivamente é possível constatar que no período em que o PMDB esteve na prefeitura, houve melhora da gestão.

Após a eleição, houve o afastamento entre o prefeito e o partido?

Logo que ganhou a eleição de 2008, João Henrique passou a atuar sob as influências da deputada Maria Luiza (primeira-dama do município), dos executivos da RX-30 e pessoas do seu núcleo familiar. Ao mesmo tempo, começou a afastar os técnicos do PMDB. É importante deixar isso claro para a sociedade: foi João Henrique quem se afastou do PMDB e nos tirou a chance de continuar trabalhando pela cidade.

O senhor pode vir a ser candidato à Prefeitura de Salvador, em 2012?

Não é um projeto no qual esteja trabalhando. Vamos aguardar. Estou mais direcionado para um projeto de fortalecimento do PMDB para 2014. Mas não fujo à luta, se for chamado. Digo apenas que não é projeto no qual eu esteja trabalhando.

Quais são os nome do PMDB para as eleições do próximo ano?

Marcelo Guimarães, Fábio Motta, Alan Sanchez, temos seis excelentes vereadores. Os nomes vão surgir como fruto de um projeto. O nome que melhor defender essas idéias e projetos surgirá naturalmente. São muitos e bons nomes. Mas temos que ter a compreensão de que a sociedade mudou, quer o mínimo de convicção de que quem está na disputa tem idéias, propostas. O grande desafio do PMDB agora é mostrar que tem foco para resolver as questões de saúde, educação, infraestrutura e manter o equilíbrio financeiro, sem aumentar impostos. Eu vi que isso é possível quando participamos da gestão de Salvador. As prefeituras não precisam ficar com cuia na mão atrás do governo. Sabendo gerir o seu custeio o dinheiro para investimento aparece.

Na sua avaliação, qual é a maior deficiência da atual administração de Salvador?

A maior falha da atual administração da capital – com todas as cautelas porque não se trata de uma questão pessoal – é a forma errática como o prefeito se comporta. Não pense que tivemos uma convivência serena. As pessoas me alertaram. Mas eu achava que aquela era uma oportunidade de trabalhar por Salvador. Era muito errática. Ele faz mudanças administrativas a cada minuto. Isso cria um clima de instabilidade que se reflete no resultado do trabalho.

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