Por Emir Sader
Poucos meses depois da realização do seu primeiro FSM, em janeiro de 2001, o movimento foi atropelado pelos atentados de outubro do mesmo ano e pelas reações norte-americanas. Um movimento que pretendia centrar sua ação nos movimentos sociais, prescindindo das forças politicas e tudo o que estivesse atrelado a ela – partidos, Estados, etc.,etc., a ponto de alguns propalarem “mudar o mundo sem tomar o poder”, enquanto outros subestimavam o papel dos Estados e do imperialismo tradicional. – teve dificuldades de assimilar o papel renovado dos Estados, do imperialismo, da guerra – todos fenômenos vinculados à esfera política.
O movimento conseguiu reagir participando das maiores manifestações jamais existentes, contra a guerra do Iraque. Porém, ao não assumir conscientemente a nova situação internacional, o FSM nem sequer fez balanço dessas gigantescas mobilizações e seguiu seu caminho como se nada tivesse acontecido. Em um mundo em que, nunca como antes, o poder do império, dos Estados nacionais, das guerras, da estratégia, dos partidos políticos, foram assumindo mais claramente ainda sua vigência.
Paralelamente, na América Latina foram surgindo governos eleitos contra o neoliberalismo, que por sua vez reafirmavam o papel dos Estados nacionais, das forças politicas, das estratégias, dos processos de integração regional levados adiante pelos governos.
O novo FSM, realizado pela segunda vez na África, tem uma nova chance de se articular com os processos políticos realmente existentes, com a crise dos regimes políticos do Oriente Médio, que se desenvolve aqui perto, nos países do norte da África.
Para isso teriam que ter sido convidados representantes das forças politicas que protagonizar as imensas manifestações de oposição aos governos ditatoriais da região. Eles poderiam conhecer as experiências latino-americanas diretamente do Evo Morales e do Lula, das delegações dos outros países latino-americanos que levam adiante com sucesso processos de superação do neoliberalismo. Não está claro que representantes estarão presentes da Tunísia, do Marrocos, da Argélia, do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, entre outros países da região.
Elevado a tema central do FSM, este ganharia uma concreção e uma atualidade que, de outra forma, terá muito mais dificuldades para ter. Deve, também, fazer um balanço da evolução da crise internacional – tema central do FSM anterior, de Belém. Poderia constatar que os países – prioritariamente os do centro do capitalismo, que causaram a crise – que reagiram com politica recessivas, de intermináveis ajustes fiscais, seguem em crise, com desemprego recorde, envoltos nas politicas do FMI que – como nós sabemos – fazem parte da crise e a aprofundam.
Enquanto que os países do Sul do mundo, especialmente os latino-americanos, que reagimos com medidas de reativação econômica, com os Estados atuando para incentivar o desenvolvimento, intensificar as politicas sociais, aumentar o nível de emprego e o poder aquisitivo dos salários durante a crise, saímos dela rapidamente e retomamos nosso ciclo expansivo. Esse justo balanço servirá também para que o FSM se dê conta – os setores que ainda não se deram conta – do papel dos Estado e da esfera politica, articulados com os movimentos populares , na resistência e na superação da crise.
É uma nova oportunidade para que o FSM não fique girando em falso, apoiado em premissas superadas ao longo de toda a década que agora termina, em que passamos da resistência à construção de alternativas, para o que restabelecemos, de outra forma, as relações das lutas sócias com esfera politica e estamos sendo capazes de superar o neoliberalismo – objetivo central FSM, quando aponta para a construção do “outro mundo possível.”
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