A nova classe média brasileira gosta mesmo é de luxo. Famílias com rendimentos entre R$ 1.126 e R$ 4.854 já estão substituindo a aquisição de produtos de baixo valor pelo consumo de itens reconhecidos e respeitados no mercado. A onda é trocar iogurtes, refrigerantes, leite e até o sabão em pó de fabricantes pouco conhecidos pelas marcas de referência. O suco é o de caixinha sem aditivos, a lan house é trocada pelo notebook com internet em casa, o tênis de baixa qualidade pelo importado, o carro velho pelo zero quilômetro. Levantamento do Instituto Data Popular, especializado no comportamento das classes C, D e E, mostra que, a cada R$ 100 em despesas, esses consumidores já destinam R$ 30 aos produtos considerados premium. Outros R$ 36 são dirigidos a artigos de médio preço e R$ 34, aos mais baratos. A expectativa é que, juntas, essas camadas da população vão gastar R$ 2,1 trilhões este ano, quase o dobro do montante previsto para os estratos A e B, limitados a R$ 1,2 trilhão.
As companhias instaladas no Brasil se deram conta de que é preciso conquistar os novos clientes, produzindo artigos que se ajustem ao seu poder aquisitivo, mas com boa aparência e qualidade. "Ao longo de 40 anos, a indústria só via potencial nas classes A e B e fabricava exclusivamente para elas. Algumas empresas tentavam atingir as classes menos favorecidas, mas o faziam com artigos para pobres e, por isso, se deram mal", explicou Nélson Barrizelli, especialista em marketing e varejo. Segundo ele, só com a estabilidade, o mercado descobriu o potencial de consumo da nova classe média, que representa 49% da população e 46% da renda do país.
Filé
Eliane da Silva é dona de um salão de beleza. Com rendimentos que variam entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, ela é separada e vive com dois filhos. A alimentação da família mudou desde que a economia voltou a girar com mais força, o que levou mais clientes ao salão. "Hoje, tomamos iogurtes de várias marcas. Nosso consumo de carne também aumentou. Mesmo com a elevação dos preços no ano passado, comemos filé pelo menos uma vez ao mês", disse. Os filhos ganharam notebook e tênis de marca.
O carro novo também se transformou num luxo com o qual a classe C se presenteia sempre que pode. O pedreiro de acabamentos José Maria Rodrigues, viúvo e pai de dois filhos, é exemplo de consumidor que realizou o sonho de ter o primeiro automóvel. Ele comprou um modelo com direção hidráulica, vidro e trava elétricos. O veículo foi financiado em 60 prestações de R$ 700 e atende ao uso familiar. "Era um sonho que eu tinha, mas que não podia realizar porque o mercado de trabalho não me dava condições para isso. Agora, as coisas mudaram", afirmou.Correio Braziliense
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