Conta-se que o Bumbá Garantido, isto é, a metade “vermelha” do município de Parintins, teve Lindolfo Monteverde como fundador do “Boi” Garantido. Ainda menino, gostava de ouvir as histórias que sua avó contava. A que mais lhe encantava, eram as lendas do boi de pano que dançava nas noites de São João.
A história permaneceu na imaginação de Lindolfo Monteverde, de tal forma, que ele viria a criar uma armação, cobrindo-a com um pano e saindo às ruas, brincando com o seu “Boi Bumbá”. Isso teria acontecido, há muitos anos, na cidade de Parintins.
No exército, Lindolfo adoeceu gravemente. Para recuperar a saúde, fez uma promessa a São João Batista que, se voltasse a ficar bom, seu “Boi” jamais deixaria de sair às ruas, pelo tempo que ele vivesse. Ele se recuperou e todos os anos, até os dias de hoje, os torcedores do “Boi” se reúnem para rezar e festejar.
O Boi Garantido foi criado branco com o coração vermelho. O nome, Garantido, tem algumas versões para justificá-lo. Uma delas deriva das primeiras brigas entre os “brincantes” (torcedores) de ambos os “Bois”. O chifre do “Boi contrário” cai e Lindolfo, como bom repentista que era, entoa as palavras: “nosso Boi sempre sai inteiro. Isso é Garantido!”. A outra versão parte de outro repentista, que desafia: “Este ano, se cuide, que eu vou caprichar no meu “Boi”. Lindolfo então retruca: “Pois capriche no seu, que eu “garanto” o meu!”
Já no lado azul do município existe o Bumbá Caprichoso, nascido em outubro de 1913, criado pelos irmãos Cid, que mudaram para Parintins com a esperança de começarem uma vida nova.
A coincidência entre os dois “Bois” acontece na promessa. Na ocasião, os irmãos fizeram também as suas a São João Batista. E tiveram seus desejos realizados. E então cumpriram o prometido: ofereceram um “Boi”, feito de pano, ao santo.
Jose Furtado Belém, advogado que teria feito carreira política em Parintins, tinha tido a oportunidade de conhecer a dança do “Boi” quando estivera em visita a Manaus. Ao encontrar-se com os três irmãos da família Cid e saber sobre “Boi”, gostou da idéia e, juntos criariam o “Boi” Galante. Mas foi só em 1925 que um grupo de pessoas se reuniu com o objetivo de fundar um “Boi Bumbá”. Um dos presentes, o Coronel João Meireles, teria sugerido colocar o nome de Caprichoso – “Boi” que teria visto em Manaus, do qual o coronel seria fã.
O nome Caprichoso teria um significado intrínseco a ele, isto é, pessoas cheias de capricho, trabalho e honestidade. O sufixo “oso”, significando provido ou cheio de. Quando somados, “capricho” mais “oso”, poder-se-ia dizer que é extravagante e primoroso em sua arte.
O “Boi” Caprichoso contava, inicialmente, com uma marujada, como eram chamados os integrantes da batucada, de 20 pessoas. Os símbolos da Marujada eram: a Estrela Maior, o Amo e A Vaquejada. Surge então, o símbolo do Caprichoso: a estrela azul.
Entenda como são as apresentações e o julgamento do Festival de Parintins
O Festival de Parintins acontece sempre no último final de semana do mês de junho. São três noites (sexta, sábado e domingo) para os “Bois” – como são chamadas as equipes – contarem a mesma história, com as lendas, os rituais, as danças tribais, os bonecos, os trajes, as alegorias, que são exigidas.
No total, o público assiste seis vezes o espetáculo das agremiações, porém, cada noite é diferente, em um espetáculo completamente novo. A ideia é simples: os bois Garantido e Caprichoso precisam contar a história de um “Boi” alegre, brincalhão e animado. No conto, este animal dançava, enchendo de energia os lugares por onde passava, sendo muito querido por todos; até que um dia, um empregado da fazenda, Pai Francisco, matava o bicho para satisfazer o desejo de sua esposa, que grávida, queria comer língua de boi. Esse personagem e sua esposa, Mãe Catirina, passavam a ser perseguidos por todos na cidade. Na tentativa de salvar o “Boi”, apareciam o médico, o padre, o Amo da fazenda e sua filha – a Sinhazinha. Depois de muita reza e de fazerem todo o possível, finalmente, conseguiam ressuscitar o animal. A felicidade era enorme, começava uma grande festa e, Pai Francisco, que até então era o vilão da história, acabava sendo perdoado.
O lugar para contar essa história folclórica é uma arena, chamada de “Bumbódromo”, que acomoda 35 mil espectadores. Cada “Boi” tem três horas para se apresentar e o vencedor é escolhido por um júri, que avalia a performance de cada “Boi” em diversas categorias: apresentação do “Boi”, apresentação da tribo indígena, apresentação dos tuxauas – chefes indígenas –, apresentação do rituais xamanísticos, melhor música, melhores alegorias, melhor coreografia, entre outros.
O Julgamento
A cada noite são escolhidos 21 ou 22 itens a serem julgados por um grupo composto de 12 jurados. A nota mínima é 7 e a máxima é 10, podendo-se usar frações. No entanto, quando a associação não apresenta algum item que estiver sendo julgado naquela noite, ela recebe nota zero, ainda que seja apresentado em qualquer das outras noites.
A cor do outro Bumbá só pode ser usada em casos excepcionais, como uma alegoria que naturalmente tenha que ser azul ou vermelha, do contrário, é proibida a sua utilização.
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