26/09/2011

Vem ni mim liberdade

Por Rosana Hermann*

Cadê a liberdade? Aquela liberdade moleca, pé na jaca, do jeito livre de ser, de agir, de fazer o que bem se entender? Sumiu. Não está na vida real, nem na virtual. A internet passa uma falsa impressão de liberdade.

Você acha que pode falar e escrever tudo o que bem entender, quando está, na verdade, produzindo provas contra você o tempo todo. Você abre uma câmera em qualquer lugar da sua casa e já começam os delitos. Se estiver tocando uma música de fundo, tem que pagar os direitos autorais.

Já tive um vídeo do YouTube silenciado assim, apenas porque estava tocando uma música no rádio naquela hora. Se tiver um pôster na parede com a imagem de alguém, você pode ser processado pelo uso indevido dela. O mesmo acontece quando você posta uma foto de si mesmo na rua e enquadra outras pessoas.

É muito louco, não se pode fazer mais nada. Nada. Tudo é ilegal, tudo é errado, tudo acaba em briga e discussão. Enfim, acho que, com todo o alcance e todos os tradutores online, estamos vivendo Babel. Ninguém se entende. Se você tem uma profissão, tem que exercê-la 24 horas por dia, na cabeça das pessoas.

O jornalista não pode falar merda porque “fere sua credibilidade profissional”. Mas nem numa festa? Não, não pode. O professor de educação física não pode ter preguiça, o atleta não pode tomar uma cerveja, o artista não pode se vestir mal. Todos têm uma obrigação com a “imagem pública”. O humorista tem que ser engraçado o tempo todo, e, se ficar bravo com motivo, se for maltratado por uma empresa e reagir mal, vai ser achincalhado em seu talento. Como um humorista fica de mau humor? Absurdo!

Somos todos escravos dos condicionamentos, e a liberdade é uma abstração. A gente quase NUNCA faz o que realmente quer. Você come porque está na hora do almoço, vai dormir porque tem que acordar cedo no dia seguinte. Skinner, exatamente como aquelas experiências famosas dos ratinhos condicionados. Condicionados estamos todos.

Apertamos o botão, digitamos o número, entramos com a senha. Obedecemos às regras, cumprimos a lei, mudamos o horário quando o governo determina. Paramos no semáforo vermelho, damos sinal para fazer a conversão. Somos todos bons cidadãos. Claro que isso é bom, essencial para mantermos o convívio. Temos mesmo que respeitar as leis e recolher o cocô de cachorro. Mas… e a liberdade? Quando é que ela chega? A liberdade, como no filme de Buñuel, é um fantasma. Um espectro do que a gente imagina.
Uma ilusão.
Só a liberdade é livre.
Todos nós somos escravos do seu desejo.

Nenhum comentário: