Faz tempo que o cachorro não é mais o inimigo dos carteiros. Para esses profissionais, o maior desafio é sobreviver a ações de bandidos. Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos do Estado da Bahia, Sincotelba, por dia, ocorrem seis a oito assaltos só em Salvador. Na época que antecede as festas de Natal e ano novo, esses números chegam a aumentar.
Em busca de cartões de crédito e talões de cheques enviados aos titulares pelos Correios, os assaltantes, muitas vezes, armados, ameaçam os profissionais, que entram em estado de choque e são afastados de suas funções.
A categoria pede mais segurança e providências das autoridades públicas para a resolução do problema. Na capital, 1.379 pessoas trabalham na entrega de correspondências. Na tarde de ontem, usando faixas e cartazes, os carteiros se reuniram na Praça do Campo Grande, e seguiram em passeata até a Prefeitura da cidade, reivindicando mais segurança para os profissionais durante o horário de trabalho.
De acordo com a diretora do Sindicato, Simone Soares Lopes, os assaltos se generalizaram e ocorrem em qualquer bairro e horário. Essa semana, uma carteira entrou em estado de choque quando foi assaltada nas proximidades da BR-324.
Os bandidos apontaram a arma para a cabeça da vítima e exigiram que ela passasse a bolsa com as correspondências e até os objetos pessoais, como o celular. “Um deles chegou a mandar que o outro a matasse. Muito abalada, ela teve que ser afastada por traumas psicológicos. Esse não é caso isolado.
Muitos outros profissionais já pediram para se afastar das suas atividades. Nós somos alvos fáceis e trabalhamos com medo”, declarou. Ainda segundo Lopes, a ação dos bandidos, além de levar perigo aos carteiros, é uma ameaça à população.
“Em vários assaltos, os carteiros tiveram suas fardas roubadas e já recebemos denúncias de que bandidos realizaram outros assaltos pela cidade utilizando nossas fardas.
Sabemos que o problema da violência não pode ser solucionado facilmente, mas os órgãos competentes podem, de imediato, colocar um policiamento ostensivo para que amenize a situação”.
Há cinco anos nos Correios, Lúcia Santos, de 39 anos, não contabiliza os assaltos sofridos exercendo a função de carteira. “Foram quatro homens armados. Eles reviraram minha bolsa à procura de correspondências registradas. Quando encontraram, foram embora calmamente. Pareciam profissionais.
A ação durou apenas segundos, mas o trauma durou anos”, lembra a funcionária o último assalto que sofreu no bairro da Pituba, há um mês. Drama parecido viveu João André da Silva, 42 anos, assaltado quando entregava uma correspondência no bairro de Tancredo Neves.
“Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Pensei até em abandonar a profissão, mas eu amo o que faço. Infelizmente, a gente trabalha com a cara e a coragem. Essa época de fim de ano é pior. Muitas pessoas que esperam receber uma cartinha de Natal, mas algumas não vão chegar”.
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