30/10/2011

Holyfield: ex-lutador ferido em incêndio ganha cortesia para encher a dispensa

As compras foram uma cortesia do Mercantil Rodrigues, onde o Miseravão da Bahia trabalhou como segurança

Dois pacotes de soja, 6 quilos de carne, 7 quilos de peixe, sete latas de leite em pó, uma dúzia de ovos, 3 quilos de arroz e... “Meu Deus, quase esqueço o feijão! Esse não pode faltar. Nem farinha!”.

A lista de compras acima, com a devida lembrança do feijão, é do ex-boxeador Reginaldo Holyfield, 45 anos, que esteve no supermercado ontem pela manhã. Recuperando-se das queimaduras de 1º e 2º graus que sofreu ao salvar dois sobrinhos de um incêndio no dia 8 de setembro, a luta de Holy para se reerguer continua comovendo os baianos.

As compras de ontem foram uma cortesia do Mercantil Rodrigues, onde o Miseravão da Bahia tem muitos amigos desde 2005, quando trabalhou no mercado como segurança.

Ainda debilitado e com a perna esquerda enfaixada, ele superou a dor e percorreu o local em duas horas. “Comida, ninguém pode negar, né? Então vou ficar firme”, disse.

“Fui até a casa dele três dias após o acidente para levar mantimentos oferecidos pelo mercado. Agora, como ele está mais recuperado, pode vir aqui pessoalmente e escolher o que quer levar”, conta Mônica Santana, funcionária do mercado. “Ele é muito querido e cativou todo mundo. Estamos felizes em poder ajudá-lo”, completa.

Com passe livre, Holyfield levou para casa o que não podia comprar há mais de um ano. “Estou escolhendo os produtos pela marca. As que conheço e gosto e as boas. Se não fosse essa ajuda eu não poderia comprar nada. Nem um grão de arroz para comer”, revela o ex-lutador.

Dificuldades
“Somos amigos há 5 anos e acompanhei as dificuldades dele. Há um ano ele passou fome. Não podia comprar comida para as filhas”, lembra o funcionário público Marlom Magno, que diz que os problemas financeiros de Holy começaram em 2003. “Ele recebia o dinheiro e tinha vários boletos e notas para quitar”.

A situação só ficou um pouco melhor em 2005, quando o ex-lutador conseguiu o emprego no mercado. “Quando estava aqui, eles sempre me davam alguma coisa para eu levar para a casa e comer”, lembra Holyfield.

Para Magno, ficou a tarefa de pegar no pé de Holy para que ele comprasse produtos saudáveis. “A tarefa não é fácil. Por ele, só levávamos feijão e comida pesada. Eu é que estou monitorando pra levar o que o médico aconselhou”, brincou o amigo Holy, por sua vez, não escolheu nada muito caro, mas não poupou na quantidade. “Acho que deve durar um mês. Estou sentindo dor e não quero voltar toda hora para não me desgastar. Minha perna dói e as partes queimadas ardem”, relata.

Fogo
O incêndio que feriu o Miseravão ocorreu num prédio na Massaranduba em que ele vivia com mais 23 pessoas, entre parentes e amigos próximos. Entre todos, a única com renda garantida é a matriarca da família, Maria de Lourdes da Silva Santos, 85 anos, que ganha um salário mínimo de aposentadoria.

Almerinda, irmã de Holyfield e mãe das crianças que ele salvou, faz serviços de faxina. “Estou muito feliz de conseguir levar tudo isso para casa. Obrigado, meu Deus”, declarou um emocionado Holy.

No mercado, funcionários e clientes saudavam o campeão. “Um lutador como você não deve desistir nunca”, disse o aposentado Ivanildo Barbosa, 64. “Todo mundo está aqui na torcida”, emendou o promotor de vendas José Santos.

Na saída da loja, o ex-lutador levava dois carros cheios de compras e um imenso sorriso no rosto. “Precisando, é só ele aparecer e levar o que quiser. Se depender de nós, ele não passará fome. Holyfield é o amigo da empresa”, garante o diretor Sérgio Ferraz.

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